quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A PALAVRA É - ENVELHECER


A palavra é: envelhecer. Implacável como a vida é. Não há nada de ficção no ato de envelhecer. Ela é tão real que paralisa o pensamento. E isso é que vai nos permitir pensar cuidadosamente sobre o caminho que escolhemos para seguir em frente. Envelhecer é tão real que nos ocupamos de esquecer de uma expressão que faz doer os ossos – "Tarde demais"
Segundo um autor que acabei de ler e que tenho verdadeiro respeito por possuir um texto honesto com os sentimentos mais comuns do ser humano, a "velhice não é uma batalha, a velhice é um massacre". Porque não há como lutar contra aquilo que o espelho não consegue mais esconder. É fácil identificar o peso do passado, mas é difícil interpretar o que significou cada escolha ao longo da sua trajetória de vida. É importante refletir sempre sobre isso, mesmo que já faça parte do passado. É a sua história de vida massacrando o seu pensamento, trazendo para superfície um amontoado de sentimentos que não foram bem resolvidos, aceitos ou mal conduzidos. São as antigas escolhas sendo cuidadosamente analisadas. Porque somos feitos de escolhas que deram certo, que ficaram pelo caminho e outras tantas que nem se concretizaram. Todas juntas foram acolhidas no seu banco de memórias.
Philip Roth é um escritor que domina a linguagem pra falar sobre temas que nos atormentam. Melhor dizendo, sobre sentimentos que nos acompanham. Entre outras coisas Philip Roth também nos faz entender em seu livro – "O Homem Comum" que somos vulneráveis, frágeis e confusos. Afinal é direito do ser humano ser comum.
Ele também relata o quanto é difícil adoecer, qual é o limite de cada um pra superar cada fase de uma doença que as vezes vem pra ficar. Escreve sobre o abandono e a necessidade de refletir sobre os motivos que te levaram a sentir-se só e a fala ainda de como encarar a morte de forma natural. Natural?!! Talvez uma missão quase impossível. Isso porque fazemos parte do grupo de homens comuns, com todo o direito de sermos vulneráveis, frágeis e confusos.
O homem comum em princípio, busca a felicidade imediata naquilo que ele deseja, o que nem sempre significa se manter feliz integralmente. Ele erra, ele acerta, ele sofre com o erro e comemora com os acertos. Acho que é assim que construímos nossa história. Eu diria que ele está perdoado por ser um homem comum. Assim como não deu para prever o fim quando a decisão do personagem principal precisou optar pela anestesia geral.
Algumas escolhas às vezes nos pegam em nossas maiores certezas, outras precisam ser cuidadosamente pensadas para não significar arrependimento.

Mas de qualquer jeito é sempre bom lembrar do que Piliph Roth falou sobre escolher, caminhar junto, adoecer, envelhecer, morrer e por aí vai.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

PALAVRA - ESSE SOM DE PÉ


O homem é o animal da palavra, assim traduz Aristóteles.
Somos língua de trapo mesmo. Consciente ou inconscientemente vamos usando a palavra como lei. Ela tem o poder de mudar o rumo da história, força para mudar o curso da vida.
Fiquei surpresa com os índios Guaranis. Descompromissados de qualquer conceito de certo e errado vão mantendo o canal de comunicação de modo mais original possível – através dos pés. É isso mesmo. “Palavra – esse som de pé” – achei perfeita essa tradução. Em se tratando de índios, eu diria mágico!
Com pés dialogam e vão mais longe: falam com Deus. Reproduzem seus mais profundos desejos, através de preces com muito barulho. Talvez por isso sejam atendidos. Recorrem às danças. Com os pés dançam e marcam passos. É o som dos pés que falam mais alto.
Marcham e inventam sons para harmonizar seus pedidos. O segredo talvez esteja em não fazer perguntas e não dar respostas. Falam com os pés e a palavra passa a ter a força da marcha, da fé, da esperança, do desejo de ser ouvido apenas. Palavra, esse som de pé pode até fazer chover. Nossa! depois desse ritual deve ser fácil permanecer calado. Porque com certeza é no silencio que vão reconstituir os seus sons internos.
Não é assim também que nos resignamos para esperar respostas?
Ah! Essa linguagem misteriosa dos índios!
"Descobri o termo que usei no título e resolvi delirar mais um pouquinho. Sem buscar interpretações ou intenções nas entrelinhas. Acho isso um saco! É um registro simples sobre o termo usado no livro - "A Etimologia das Paixões" de Ivonne Bordelois.
É sempre assim, gosto de escrever num rompante e hoje escrevi muito. Vou postando com a liberdade que esse espaço me permite e só. Se pudesse usava a dança dos pés ao invés de palavras. "