terça-feira, 25 de dezembro de 2007

UM ACHADO DE NATAL

O Natal nem bem terminou e olha o que me caiu as mãos como um presente dos deuses. Papai Noel sabe o que vai agradar em cheio e meu filho também. Encontra sempre o presente do tamanho dos meus sonhos natalinos. Ganhei o livro “Achados” de Caíque Botkay. Deste autor já ouvia falar nos anos 70, por intermédio de um amigo mais que amigo que freqüentava o grupo jovem da Igreja Santa Inês, no bairro da Gávea. Era por lá que Caíque tocava violão e já era reconhecido como uma pessoa cheia de idéias iluminadas. Meu mais que amigo já era seu fã e por tabela eu já o admirava e sem nem o conhecer pessoalmente já o aplaudia. Desde lá, uma pessoa das artes. Uma pessoa além do seu tempo.

Bem, mas de “Achados” só encantamento. Segundo o próprio autor é um livro de “amigos ilimitados”. Eu preferi a outra explicação que afirma ser o resultado de milhões de anotações reunidas. Daquelas que a gente faz ao longo da vida e que nunca imaginamos publicar. É assim que ele também conclui o que poderia ter recebido o título de: “Textos que nunca imaginei publicados”.
Quem não reúne rabiscos? Aprendi com ele que isso também se chama analecto, ou seja, uma coleção de escritos, antologia ou ditos célebres.
É um livro que você vai lendo e pronto. Se deliciando com as descobertas que estavam em algum baú e nunca foram reveladas. Achados que estavam na memória de algum amigo e que por confiança ou pura amizade, acreditando no seu trabalho, o disponibilizaram sem censura. É assim que vamos absorvendo a sua técnica de reunir documentos e histórias escondidas. Adorei a explicação sobre a metodologia utilizada em seu trabalho para reunir tudo isso, além de sua melhor intenção em reunir nessa edição caprichada as memórias afetivas de tantos amigos. Ele afirma - “sem o menor método, cada um entra com o que quiser. Contanto que seja do fundo do baú. Não vale nada novo, tem de ter poeira”.

Porque tudo que é empoeirado me inspira tanto? Gosto de memórias e histórias do fundo do baú. (Eu hein, logo eu tão presente!)

São textos, poesias, artigos, resenhas, homenagens, desenhos, fotografias e muitos bilhetes. Enfim, rabiscos com essência de lembranças e muita arte. Arte empoeirada de fundamental importância. Todas engavetadas com afeto por uma legião de amigos que muito gentilmente também nos concederam a possibilidade de conhecer essas preciosidades. Lá estão cartas trocadas entre Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Tom Jobim, datadas de 1971 sobre letras de música, palpites, idéias e sugestões de modificações à luz da genialidade de cada um deles. (Olha que presentão de Natal meu filho me proporcionou!)

Tem poema inédito de Noel Rosa com mais algumas daquelas receitinhas de amor de poeta. Pequenos versos de uma canção de um mês de junho de 35.
Mas foram as páginas onde o autor cita Carlos Drummond de Andrade que me fizeram achar que presente de filho é sempre o melhor. Trata-se da foto de um cartão guardado pela mãe de Caíque – a poetisa e dramaturga Ivonne Simoens Botkay. Uma explicação particular e dirigida a ela durante um encontro literário. Foi pra ela que Drummond explicou os versos “ pedra no caminho”.


“ Quem sabe se uma pedra no caminho não é mais que um pedido de carinho? "

E eu aqui a delirar por tantos versos quando eles próprios se permitem criar versões diversas. Direito do poeta, há que se respeitar todas.
E como esquecer de um outro “achado” que serviu para brindar meus momentos de leitura natalina. Um telegrama enviado por Tom Jobim a Chico Buarque quando ele tomou (sozinho) a vaia do “sabiá”, que diz o seguinte:

“Venha urgente presença imprescindível temos que estar juntos preciso de você." Tom Jobim.

RECADO PARA JOÃO LUCAS

Adorei o presente! Eu também tenho coisas guardadas no fundo do baú. Prometo continuar reunindo com carinho todas as nossas boas lembranças para um dia, quem sabe, também poder registrar nossos "achados" de Natal. Por hora registro meu beijo de UM FELIZ NATAL.


Para quem não o conhece. Eis um vídeo "achado" por mim, de um encontro realizado em 2008, no Teatro Tablado em comemoração ao Anivesário de Karl Valentim, por ocasião da divulgação do espetáculo de mesmo título.

O HUMOR DE KARL VALENTIN - Por CAIQUE BOTKAY


segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

A LITERATURA MORA NAS RUAS ?




Com certeza mora nas ruas e ao redor de mim. Não me distancio da realidade para poder descobrir o que tem de poesia por trás de algumas frases, versos ou palavras. Acho que entendo um pouquinho sobre o que o escritor e roteirista Marçal Aquino fala em uma entrevista concedida ao jornalista Mauro Ventura da Revista O Globo - " a realidade dispara a centelha da ficção dentro de mim?. Acho que isso explica porque meu olhar reúne os outros quatro sentidos. É através deles que sinto o mundo, seja lendo, vendo ou até fechando os olhos pra não ver. Achei perfeita essa frase dele. A impressão que tive é que ele deve ser pior que eu. Adora um delírio.


Adoro frases, versos, textos ou observações que dizem tudo de forma simples, mas poética. O simples tem algo de poético mesmo. No caso do escritor deve ser resultado de uma percepção refinada que o ajuda a pensar. Um poeta que se esconde atrás das palavras e brinca para ter certeza daquilo que observou. Um incansável observador do que acontece ao seu redor. Ele precisa do estímulo da realidade para criar os melhores títulos. Destaque para algumas belas pérolas cheias de significados desse escritor que adorei conhecer : "Amor e outros objetos pontiagudos" ou ainda "Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios". É a partir desta descoberta que ele começa a inventar suas histórias. Brilhante!

Estou aqui pra concordar com ele, a literatura mora nas ruas. Basta um pouco de sensibilidade pra entender que a vida precisa é disso: poesia.



Obs.: Marçal Aquino é escritor e roteirista e segundo o jornalista Mauro Ventura que o entrevistou "o rei da conversa alheia. Participou como roteirista no filme "O invasor", "Os matadores", "Ação entre amigos", "Cão sem dono" e "Crime delicado". Em 2008, foi roteirista de "Nina" e " O cheiro do ralo". Agora, espero pelo livro para ver o que ele andou aprontando, cujo o título promete - " Grande circo humano".

  • Foto do site "Pílula pop"

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A PALAVRA É - ENVELHECER


A palavra é: envelhecer. Implacável como a vida é. Não há nada de ficção no ato de envelhecer. Ela é tão real que paralisa o pensamento. E isso é que vai nos permitir pensar cuidadosamente sobre o caminho que escolhemos para seguir em frente. Envelhecer é tão real que nos ocupamos de esquecer de uma expressão que faz doer os ossos – "Tarde demais"
Segundo um autor que acabei de ler e que tenho verdadeiro respeito por possuir um texto honesto com os sentimentos mais comuns do ser humano, a "velhice não é uma batalha, a velhice é um massacre". Porque não há como lutar contra aquilo que o espelho não consegue mais esconder. É fácil identificar o peso do passado, mas é difícil interpretar o que significou cada escolha ao longo da sua trajetória de vida. É importante refletir sempre sobre isso, mesmo que já faça parte do passado. É a sua história de vida massacrando o seu pensamento, trazendo para superfície um amontoado de sentimentos que não foram bem resolvidos, aceitos ou mal conduzidos. São as antigas escolhas sendo cuidadosamente analisadas. Porque somos feitos de escolhas que deram certo, que ficaram pelo caminho e outras tantas que nem se concretizaram. Todas juntas foram acolhidas no seu banco de memórias.
Philip Roth é um escritor que domina a linguagem pra falar sobre temas que nos atormentam. Melhor dizendo, sobre sentimentos que nos acompanham. Entre outras coisas Philip Roth também nos faz entender em seu livro – "O Homem Comum" que somos vulneráveis, frágeis e confusos. Afinal é direito do ser humano ser comum.
Ele também relata o quanto é difícil adoecer, qual é o limite de cada um pra superar cada fase de uma doença que as vezes vem pra ficar. Escreve sobre o abandono e a necessidade de refletir sobre os motivos que te levaram a sentir-se só e a fala ainda de como encarar a morte de forma natural. Natural?!! Talvez uma missão quase impossível. Isso porque fazemos parte do grupo de homens comuns, com todo o direito de sermos vulneráveis, frágeis e confusos.
O homem comum em princípio, busca a felicidade imediata naquilo que ele deseja, o que nem sempre significa se manter feliz integralmente. Ele erra, ele acerta, ele sofre com o erro e comemora com os acertos. Acho que é assim que construímos nossa história. Eu diria que ele está perdoado por ser um homem comum. Assim como não deu para prever o fim quando a decisão do personagem principal precisou optar pela anestesia geral.
Algumas escolhas às vezes nos pegam em nossas maiores certezas, outras precisam ser cuidadosamente pensadas para não significar arrependimento.

Mas de qualquer jeito é sempre bom lembrar do que Piliph Roth falou sobre escolher, caminhar junto, adoecer, envelhecer, morrer e por aí vai.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

PALAVRA - ESSE SOM DE PÉ


O homem é o animal da palavra, assim traduz Aristóteles.
Somos língua de trapo mesmo. Consciente ou inconscientemente vamos usando a palavra como lei. Ela tem o poder de mudar o rumo da história, força para mudar o curso da vida.
Fiquei surpresa com os índios Guaranis. Descompromissados de qualquer conceito de certo e errado vão mantendo o canal de comunicação de modo mais original possível – através dos pés. É isso mesmo. “Palavra – esse som de pé” – achei perfeita essa tradução. Em se tratando de índios, eu diria mágico!
Com pés dialogam e vão mais longe: falam com Deus. Reproduzem seus mais profundos desejos, através de preces com muito barulho. Talvez por isso sejam atendidos. Recorrem às danças. Com os pés dançam e marcam passos. É o som dos pés que falam mais alto.
Marcham e inventam sons para harmonizar seus pedidos. O segredo talvez esteja em não fazer perguntas e não dar respostas. Falam com os pés e a palavra passa a ter a força da marcha, da fé, da esperança, do desejo de ser ouvido apenas. Palavra, esse som de pé pode até fazer chover. Nossa! depois desse ritual deve ser fácil permanecer calado. Porque com certeza é no silencio que vão reconstituir os seus sons internos.
Não é assim também que nos resignamos para esperar respostas?
Ah! Essa linguagem misteriosa dos índios!
"Descobri o termo que usei no título e resolvi delirar mais um pouquinho. Sem buscar interpretações ou intenções nas entrelinhas. Acho isso um saco! É um registro simples sobre o termo usado no livro - "A Etimologia das Paixões" de Ivonne Bordelois.
É sempre assim, gosto de escrever num rompante e hoje escrevi muito. Vou postando com a liberdade que esse espaço me permite e só. Se pudesse usava a dança dos pés ao invés de palavras. "

domingo, 22 de julho de 2007

OUTRAS TANTAS PALAVRAS DO CORAÇÃO


Quando a dor de dente te faz sofrer.
A solução é simples.
Arrancar se preciso for.
Você deixa de sofrer e a dor desaparece.
Dor física te faz sofrer
e a solução é sempre tão simples.

Inútil é sofrer com a dor da falta de palavras.
As infinitas palavras que te traem.
As infinitas palavras que não são ditas
Pânico, ansiedade e lá se vai mais uma oportunidade de dizer o que precisava ser dito.
Se quer mandá-lo para o inferno é só dizer: vá a merda, chega!
Se o coração dispara é só dizer:
Te desejo, vem!
Minha boca me trai o tempo todo
e digo palavras sem sentido.
E as palavras precisam ocupar
o lugar dos sentimentos
É para isso que elas existem!
Se meus pensamentos já inventaram a cura
dessa imensa dor de não saber o lugar certo das palavras?
Só meu coração não foi avisado, porque este continua me traindo
Só ele sabe o peso das infinitas palavras que me aprisionam.

Desconfio que não há cura para as palavras do coração!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

SAINDO DE MIM

Quero infinitas palavras e letras
Quero infinitas palavras para falar
dos meus muitos caminhos e descaminhos.
Dessa mansa loucura de abalar a minhas próprias estruturas.
Fugindo de mim, partindo de mim, saindo de mim.
Segredos que não têm nada de secretos,minha verdade nua e crua.
Porque é assim que eu gosto de ser. Palavrear sem censura.
Quero o mínimo de silêncio, tudo que é sonho, tudo que é delírio.
Uma resposta, um prazer e vários pontos de exclamação.
Quero ser livre em mim mesma.
Quero reticências se não conseguir explicar de imediato.

Porque é assim que me faço entender.
Acho que minhas contrações voltaram.
Estou me sentindo em pleno nado de peito.
Inquieta, desarmada e sem amarras
Sinto a porta aberta e um marzão de palavras
que prometem harmonizar meus dias.

No fundo do mar e no meio de mim tenho ainda muito que escrever.
Agora é respirar fundo e deixar fluir.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

INFINITAS PALAVRAS PRA DIZER QUE AMANHECI


Infinitas palavras pra dizer
que amanheci com preguiça de buscar outras tantas que me expliquem.
Me estiro no chão e fecho os olhos. Tento e não descubro o sentido. São tantas!

Volto depois porque agora eu só quero relaxar.