quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

O SABOR DAS PIMENTAS

Cinema no cinema é bom demais, mas só quando o filme é muito bom. Caso contrário não há magnetismo que me faça sair feliz de lá.
Já que meu carnaval foi em casa vendo vídeos sigo a máxima e volto afirmar: deu pra relaxar.

Mas ô filmezinho sem-vergonha de ruim esse tal de "O Sabor da Magia". Acho que a pimenta foi a protagonista. Será? Só pode ser. Adorei a cor e o jeitinho dela interpretar os sonhos dos clientes da linda loja da atriz dos lindos olhos. Como é mesmo o nome dela?
E o que terá acontecido com o diretor que deixou passar aquela cena do beijo? Que ângulo foi aquele? Achei que poderia ter sido a cena mais caliente do filme. Tavez a única coisa que fosse prestar. Nossa! Será que é isso que chamam de beijo técnico? Portanto, continuo afirmando que a pimenta ficou melhor na fita. Não adianta colocar um ator com aqueles belos olhos pra dar um beijo daquele. Não basta ser bonitinho, tem que ser bem dirigido e ter uma boa história pra contar. Acho que faltou trabalho de equipe! hehehe!
O que será que imaginaram. Belos protagonistas salvam uma história. Bláh!
Não sou expert em cinema e posso até cometer algum engano, mas não consigo mais falar nada sobre o filme. Prometo que eu vou rever isso se alguém me ajudar. Mas vamos combinar se tem algo que me impressionou mesmo foi conferir a performance das pimentas.

Ufa! Mais um dia de carnaval e o abre-alas ficou prejudicado.
Só deu pra valorizar a evolução das pimentinhas. Só rindo!!!
Eu juro que me esforcei!

O Despertar de uma Paixão

Carnaval combina com ficar à toa e não se aporrinhar com aquelas responsabilidades de um dia normal. Este ano optei por passar os dias de folia em um estilo meio "macunaímico". Dois ótimos livros pra devorar e uma penca de filmes pra desvendar. Era da rede para o sofá e do sofá para a rede. Desta vez não coloquei meu bloco na rua, desfilei sem fantasia de um lugar para o outro sem direito as famosas paradinhas, ou seja, ninguém pra atravessar meu samba. Fazer o quê, né! Este ano foi assim, ano que vem serão outros carnavais. Resolvi a questão mudando a rede de lugar. Juntei uma penca de vídeos e de volta pra rede com todas as pipocas do mundo. E a primeira investida foi devorar um livro de Eduardo Giannetti – mas isso renderá outro comentário. Depois tive que correr com aquele monte de vídeos pra ver. E a comissão de frente com nota dez garantida ficou por conta do filme que ganhou o título no Brasil de "O Despertar de uma Paixão". Uma adaptação de um romance que não li – "O Véu Pintado", de W. Somerset Maugham. O que tem a ver esse título só lendo o livro pra descobrir.
Gosto mais de um filme quando o roteiro me proporciona viajar junto com ele, além de bons atores e uma fotografia que se instala na mente. Esse tem tudo isso. Edward Norton faz parte da minha lista de excelentes atores, desde "As Duas Faces de um Crime". "O Ilusionista" é o meu mais recente momento de briga com a locadora, pois a Blockbuster não é mais a mesma e o serviço está cada vez pior depois que se juntou com as Lojas Americanas.
Enfim, os produtores e também protagonistas conseguiram sintonia perfeita ao passar o drama de um casal que se descobre dentro daquelas armadilhas da convivência. Um casamento que surge como válvula de escape para Kitty(Naomi Watts) a mulher e para Walter (Edward Norton) o marido como mais um empreendimento que une amor à primeira vista a seu mundinho politicamente correto. Fica claro que o amor dele é maior, mas isso não é garantia de amor eterno. Há muitas crises a serem vencidas, onde cada um precisaria abrir mão de seu orgulho próprio. Resultado: insatisfação conjugal e troca de farpas. À beira do abismo esse amor não cresce e se esfacela cada vez mais, chegando ao adultério. Em uma época(1920) em que a mulher já era considerada vulgar pelo simples fato de ter idéias um pouco mais avançadas, o que dizer de uma adúltera. Ela o trai e ele a obriga a escolher entre o casamento falido e a crueldade de ser massacrada por uma sociedade preconceituosa. Entre as opções, sobrou a obrigação de acompanhá-lo em uma missão de controlar uma epidemia de cólera no interior da China. Sem saída, Kitty sofre com a derrocada de um amor fracassado e se vê obrigada a correr o risco. Fico pensando até que ponto essa mulher merecia tal punição. Na minha opinião se adaptaria e poderia até "re-apaixonar-se" pelo marido, não fosse ele um homem rancoroso, frio, cheio de mágoas e averso a mudanças. O que fez ele para cativá-la? Junto com isso vem a indiferença. Mas é também ao longo desta convivência difícil que surge a chance de cada um olhar para si mesmo e ver o que esperam da vida. Mas o cinema tem esse poder de reacender a chama do amor em alguns poucos fotogramas, além de uns bons argumentos para nos fazer entender a trama. Na vida o tempo é cruel e a distância torna sólido todos os sentimentos, sejam eles para terminar ou para recomeçar um relacionamento. É quando percebemos que basta abrir a guarda para que o amor possa ser despertado. O fato é que o filme passa a partir daí a ganhar mais encantamento enquanto romance. E a fotografia dá o tom perfeito para esse despertar. Gostei muito do filme.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

DESEJO E REPARAÇÃO

A tradução correta para o título do livro de Ian McEwan é REPARAÇÃO, mas não tenho nada contra a palavra DESEJO criada para complementar o título do filme na versão brasileira. Teve gente que criticou.
Na seqüência para a telona da cena da transa dos dois personagens fica quase óbvio que aquele calor se traduz em muito desejo guardado. Perfeito se a justificativa vem daí. Mas fico cá pensando o quanto tem de beleza outras tantas cenas e relatos no livro que vão além disso. Que texto! Uma obra-prima!
É inegável que a cena dos dois na biblioteca é de um erotismo profundo. Cenas irresistíveis de se ver. Mas uma coisa que eu admiro em um autor é o poder que ele tem de transcrever uma idéia ou um sentimento de forma tão envolvente. Eu diria – e nem sei se é isso que acontece – que se trata de uma inspiração que surge quase que por impulso e que resulta no prazer de escrever. É a palavra fazendo valer a sua total liberdade de expressão. É o exercício de sua vontade se deixando aflorar. Será que isso é o que chamamos de fantasia em literatura? Saber contar histórias é uma arte. Há que se ter um poder quase mágico para nos convencer disso.
Quanta beleza na forma romanceada de escrever a seqüência em que Robbie, involuntariamente, se lembra do seu objeto do desejo chamado Cecília. Foi com tamanha perfeição que o diretor Joe Wright conseguiu traduzi-la cinematográficamente. No livro, o autor também entregou-se a uma fantasia cinematográfica. E tudo ficou sublime e comovente.
“Depois que voltou do trabalho, passou mais de uma hora imerso na água tépida enquanto seu sangue e – era impressão que dava – seus pensamentos aqueciam a água.”
Além disso irresistível o poder deste autor de nos fazer entender o quanto aquele sentimento havia atingido o personagem (Robbie).


“Robbie já via em sua mente a rua feia, longe dali, o cubículo recoberto de papel de parede com flores, o guarda-roupa sombrio, a colcha de algodão, os novos amigos empolgados, quase todos mais moços que ele, os tanques de formol, os auditórios cheios de ecos – e, em tudo aquilo, a ausência de Cecília.”

“Contra sua própria vontade, levou o livro à altura do nariz e respirou fundo. Poeira, papel velho, cheiro de sabonete em suas próprias mãos, mas nada dela. Como chegara àquele ponto, àquele estado avançado de fetichismo do objeto amoroso “

Mas o livro é muito mais que isso. Uma trama bem escrita, com tempo para nos surpreender e emocionar com passagens onde vemos erotismo, emoção, paixão, mentiras que fazem sofrer, mal-entendidos que causam mágoas, sentimento de culpa, tentativa de busca do perdão e reparação.


Uma obra-prima que merece ser lida e um belo filme que não deve ser esquecido.
  • Para conferir alguns bons momentos do filme descobri esse link