domingo, 17 de janeiro de 2010

Bilhetes


Sinto saudades. Saudades dos seus bilhetes. Saudades de quando as palavras tinham mais sentido. Quando os verbos eram pra conjugar verdades. Quem sabe mentiras para o outro ser mais feliz. Eram bilhetes que chegavam de surpresa. Palavras que chegavam de repente para alimentar o coração. Um coração que só interpretava paixão.

Hoje sinto saudades dos melhores bilhetes que traduziam o melhor dos sentimentos. O que dizer sobre a frase “Agora desejo um beijo e o silêncio da minha boca na tua...” A mensagem batia fundo. Era o bilhete que chegava desvendando todos os desejos do beijo. Como era difícil encontrar uma explicação rápida para um sentimento que durava o tempo exato da emoção. Nem mais, nem menos. As vezes as melhores respostas viam em forma de lágrimas com muitos beijos.

Sinto saudades das mudanças de estação. Cada uma delas era motivo para um bilhete apaixonado. Chegavam para desafiar as previsões. Nunca para adivinhar o que ainda estava por vir. Não eram bilhetes previsíveis. Descobríamos juntos que eram necessários. Com o tempo exato para manter o clima de romance no ar. A Primavera começava no horário certo, às 15h43. Era o exato momento em que a inspiração surgia em forma de verso. Versos como este por exemplo: “ Para os outros a primavera começa hoje, às 15h43. Para mim ela existe desde quando você me polinizou, instaurando vida, cor e perfume em minha vida” Por isso nem queiram imaginar o que significou o Outono para mim. É só disso que sinto saudades. Saudades do que representaram todos os bilhetes.

Mas foi também assim que um dia todas as palavras se foram. Junto com o seu último bilhete não sobrou um verbo para conjugar. Nada sobrou do verbo amar. Erramos a terminação e agora só nos resta flexionar a vida e aprender um pouco mais sobre o que significa reler todos esses bilhetes que nos fazem sentir saudades.


(Inspirado no Bilhete de Noel Rosa postado para ilustrar o texto)